Reorganização Escolar: O projeto que dividiu opiniões

Mesmo após a onda de protestos e ocupações, as salas de aula estão cada vez mais cheias. É o que muitos chamam de “Reorganização Disfarçada”
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Foto: Beatriz França

Em setembro de 2015, o governador licenciado Geraldo Alckmin anunciou o projeto de Reorganização Escolar. Estudantes do Ensino Médio ocuparam grande quantidade das escolas estaduais da cidade por mais de noventa dias como forma de rejeição ao projeto. Boa parte dos alunos e professores acredita que após a repercussão, a educação se tornaria prioridade para o governo e as salas superlotadas não seriam mais um problema. No entanto, o futuro que eles temiam é a realidade que está presente nas salas de aula.

As salas superlotadas são resultado do projeto político de um governo que é o mesmo há mais de vinte anos. A maior parte das decisões tomadas são técnicas, mostrando os professores e alunos como números e não como indivíduos.

Aluno da 3ª serie do Ensino Médio da Escola Estadual Deputado Silva Prado, Nathan Pereira da Silva, de 16 anos, conta que na sua escola a falta de verba, de investimento e o desânimo predomina nos corredores. “Não vi nenhuma mudança nas aulas, parece que foi esquecido o que aconteceu. Dezenas de escolas ocupadas para três anos depois continuarem do mesmo jeito e com diversos projetos do governo para piorar ainda mais nossa qualidade de ensino”, explica indignado com o rumo que a situação está tomando.

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Sala da 3ª serie do Ensino Médio da Escola Estadual Deputado Silva Prado (Foto: Beatriz França)

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, quarenta alunos é o máximo que as turmas de Ensino Médio podem ter. Mas, dependendo da metragem da sala, isso pode interferir na circulação dos alunos e professores. Nathan também comenta que, por conta da superlotação, os professores não conseguem dar atenção a todos, e nas matérias que ele tem mais dificuldade, não consegue tirar todas as dúvidas.

O professor de História, Raimundo Justino, reconhece que as salas das escolas da prefeitura têm bem menos alunos, no máximo 35. “Quando eu estava no Estado, o número era elevado ao quadrado, porque a quantidade de pessoas é sempre muito alta e não tem espaço físico. Ainda mais quando você dá aula para uma sala com alunos altos que não cabem na carteira”, comenta Raimundo que, depois de passar quatro anos na rede estadual, migrou para a rede municipal.

Com a sala superlotada, o professor precisa trazer novos métodos para conseguir ensinar de uma maneira atrativa e que todos entendam. Entretanto, a falta de estrutura e ter que lidar com as barreiras da própria questão física podem impedir os alunos de desenvolver um trabalho de boa qualidade.

Como professor de Sociologia, Alexandre Ramos, que trabalha na rede estadual há treze anos, explica algumas das dificuldades que enfrenta no seu dia a dia: “Há uma incapacidade de poder desenvolver qualquer tipo de trabalho com o mínimo de qualidade. Cada sala que eu entro tem muitos alunos, muito barulho e não consigo dar a atenção que devia a todos, isso causa uma sensação de incapacidade”.

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Carteiras escolares entulhadas no corredor (Foto: Beatriz França)

Para o estudante Nathan, se tivesse uma campanha que mostrasse a importância dos estudos e o papel dos professores, isso seria algo motivador para os dois lados. “Vejo várias pessoas com uma capacidade absurda para realizar algumas coisas, porém sem investimento e ajuda, esse conhecimento acaba sendo desperdiçado. Muitos professores acreditam no nosso potencial, mas não conseguem nos apoiar, já que nem eles são apoiados”, completa.

O professor Alexandre Ramos participou de forma intensa nas manifestações de 2015 e explica que o governo só manteve a ideia de reorganização de uma forma mais sutil: “Depois de toda repercussão, o que o governo fez foi acuar com o plano de fechamento das escolas. Ele não fez isso de uma forma tão aparente, não executou o plano todo de uma vez só, então cada escola ele está fechando uma, três, cinco salas e outras foram fechadas de maneira gradual sem que houvesse a possibilidade de ter qualquer tipo de reação”.

Nathan acredita que é dever do governo dar uma educação de qualidade. “Isso engloba, por exemplo, a ideia de a sala de aula ser um lugar confortável com cadeiras estofadas, um ar condicionado, materiais didáticos de fácil acesso, segurança e o mínimo de incentivo para termos vontade de estudar”.

Todos precisam de uma dinâmica bem grande e esforço físico. Isso se complica porque, nas escolas, sempre tem o professor que está há mais tempo e já não tem a mesma capacidade para acompanhar o ritmo dos alunos – que pertencem a uma nova geração. Alexandre costuma dizer que “para entrar numa sala de aula como professor, você precisa ter pique, e muito, por conta da demanda e da dificuldade dos alunos”.

Resolução

Parte dos professores da rede estadual acredita que se houvesse mais investimento em materiais e no espaço físico para trabalhar com seus alunos fora da sala de aula, isso diminuiria a dificuldade dos dois lados. Porém, sempre que eles tentam propor a direção da escola algo diferente, são barrados por falta de suporte do governo.

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Foto: Beatriz França

A professora de Língua Portuguesa, Luana Helena Ribeiro, trabalha com Educomunicação há dois anos e percebe que esse método de ensino é algo distinto da Educação a Distância. “A Educomunicação não é a saída para a superlotação das salas da rede pública. Talvez o EaD seja a solução, mas não acredito que ela seria uma forma de resolver a superlotação.”

Os professores da rede estadual acreditam que a melhor forma de reduzir a superlotação das salas, seria a construção de mais escolas e ambientes de aprendizagem modernizados. Luana acredita que não adianta trocar horas em casa pelo aprendizado à distância, sendo que os alunos, quando estão em casa, perdem a vivência qualitativa.

A Escola Estadual Deputado Silva Prado trabalha com métodos da Educomunicação. Um exemplo, é o blog da instituição que está no ar desde 2010, e a rádio que deu início em 2015 – ambos projetos criados pelo professor Alexandre Ramos.

“Quando criei o blog, foi para ter um canal de comunicação entre toda a comunidade escolar. Eu sempre tomei conta e fui chamando alguns alunos para dar continuidade, hoje o blog tem mais de 30 mil acessos”, explica Alexandre sobre o sucesso do blog escolar.

Para a professora Luana, existem escolas que trabalham de forma indireta com metodologias da Educomunicação. “As escolas usam vídeo em aulas, pedem para o aluno produzir cartaz, levam jornal para sala de aula, criam uma rádio na escola e até o mural de informação contribui com a solidificação e diversidade das aulas. O conteúdo didático é fazer com que eles aprendam, não só com livro e exercício, mas também aprender colocando em prática”, conta.

De cada 8 escolas da Rede Estadual 128 tem salas superlotadas.
Infográfico: Pietra Polo

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Editoria: Educação

Texto: Beatriz França, Bianca Baronti, Isadora Clerico e Pietra Polo

Revisão: Bianca Baronti e Pietra Polo

Entrevistas: Isadora Clerico e Laiane Miranda

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